Por Jane Andrade (professora/Chapadinha)
A cidadania é uma noção que nem todos assimilam
Hoje sucesso, prestígio, notoriedade são metas infinitamente mais mobilizadoras que fé, esperança e caridade... Ter não é mais que o ser: ter é o próprio ser.
Olhar no olho da tragédia é o primeiro passo para superá-la.
Vivemos uma onda de "conformismo esclarecido". Sabemos o que está errado, mas não fazemos nada para mudar a realidade.
Somos 110 milhões de eleitores, chamados às urnas bienalmente a escolher 58 mil vereadores, 5.500 prefeitos, 1.200 deputados estaduais, 27 governadores, 513 deputados federais, 81 senadores e 1 presidente da República. No entanto, o discurso "Não é comigo" tão comum é uma compreensão torta de que o exercício da política é para os especialistas. O que vigora de 1984 para cá é o princípio colonial escravista que afirma que uns poucos nasceram para mandar e os outros, a maioria, para obedecer.
Temos que lutar contra o analfabetismo que, em nossa prática, se confunde com o não saber ler, mas contribui muito pouco para a leitura da realidade, da história e da vida.
Decifrar o mundo significa que o acesso à realidade é problemático, que é preciso ir além das aparências, atrás das máscaras e das ilusões. É este o papel da conscientização de que nos fala Paulo Freire.
Marx (1818-1883), melhor que ninguém, esclarece como nós trabalhadores somos obrigados a nos submeter às condições de exploração de uma classe menor, porém dominante. Vendemos nossa força de trabalho em troca de bens que suprem nossas vidas. Mas não escolhemos quanto e em que condições vamos trabalhar. E tudo o que fazemos, na maioria dos casos, não nos dá o retorno esperado: a alimentação, educação e saúde necessárias à nossa família.
Precisamos (professores ou não) educar, informar para a liberdade, para que nossas crianças compreendam os interesses de ricos e pobres e na cultura dos direitos é tarefa fundamental dos educadores que aliem competência e compromisso político.
O Brasil é um gigante das deficiências: o serviço público educação não atende a crescente demanda. O tempo escolar do nosso povo é um dos menores do mundo! Para ficar na América do sul, basta dizer que a média de escolaridade em países como Uruguai, Paraguai, Venezuela, Chile, Argentina e Colômbia é maior que a nossa. Nossos trabalhadores ficam na escola 2 ou 3 anos... E só.
Somos 23 milhões de analfabetos, apartir de 11 anos de idade. De 100 crianças que entram na primeira série, apenas 33 concluem a oitava. Três milhões de crianças estão totalmente fora da escola em situação de risco. De cada 10 jovens maiores de 18 anos, apenas um ingressa na Universidade.
Quem não lê sabe menos, e nossas elites querem é isso mesmo. Quem está desinformado é mais facilmente explorado.
Em nossa cidade, quem assiste a TV local acha que está tudo indo às mil maravilhas. Até na internet é dificil saber o que é real. Mesmo quando a triste situação de nossas ruas e hospitais é noticiada, o fazem de uma forma tão amena que induz as pessoas a pensarem que nem é tão importante. O cidadão só é importante quando é visto como cliente, freguês, consumidor. Nossas crianças passam em média 4 horas diárias na escola, o restante do tempo estão em companhia da TV que diz: Compre! Compre! Compre! O Deus do mercado é onipresente.
E achar que só nós educadores resolveremos é no minimo inocência. Todos somos sujeitos agentes da história e não espectadores do seu desenrrolar, que foge ao nosso controle. Gramsci dizia que "somos todos filósofos". Podemos afirmar que somos todos educadores! Cada um tem que assumir seu papel e sair desse estado apático para exercer e lutar por nossos direitos.
Vereadores, por exemplo, tem 3 pessoas à sua disposição, enquanto alguns professores são responsáveis por 30 crianças em sala de aula, às vezes até mais.
Tem gente que, sem nível superior, recebe duas vezes mais do que quem tem, e detalhe: sem fazer nada. Só por ser afilhado político de algum vereador ou mesmo parente da prefeita. Enquanto meus colegas estão todos os dias em sala de aula e tem seus salários descontados caso faltem, vereadores trabalham duas vezes por semana e ainda vez por outra faltam às sessões. Enquanto meus colegas repõem aulas os excelentíssimos vereadores recebem gratificação por cada sessão extra, que só acontecem porque faltaram ao trabalho. E ainda tem vereador que diz que temos que nos contentar com o salário em dia e nos chama de palhaços.
E não adianta fazer cara feia, pois não só posso como provo tudo. O Moraes também prova, mas quem disse que eles o convocam na Câmara para dar seus esclarecimentos? E olha que se coloca a disposição, mas não parece ser este o tipo de disposição que eles querem.
Logo, logo, farei uma denúncia formal ao Ministério Público e mostrarei a vocês aonde está a verdadeira palhaçada.
(Fontes, leituras relacionadas e indicadas: Chico Alencar, Moacir Gadotti e Maria de Lourdes Manzini Covre.)
Prof. Janislene Andrade (enviada ao SINDCHAP por email)
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